quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sinais da Vacuidade


Aquele que realiza a verdadeira natureza da mente compreende ao mesmo tempo em que todos os fenômenos, as coisas e os seres, os universos e todos aqueles que os povoam, são apenas uma produção da mente, vazia em sua essência.Um certo número de sinais nos indicam a vacuidade da mente e a ausência de entidade própria dos fenômenos, mas, geralmente, não prestamos atenção neles. No momento da concepção, quando a mente entra no ventre da mãe, os pais não podem vê-la. Nenhum efeito materialmente perceptível permite revelar sua vinda. No momento da morte, do mesmo modo, mesmo que o moribundo esteja rodeado de muitas pessoas, ninguém vê a mente sair do corpo. Ninguém poderia dizer: "Ela saiu por aqui", ou ainda: "Ela saiu por ali".Talvez vocês tenham estudado durante muitos anos e armazenado muitos conhecimentos. No entanto, eles não estão dentro de um armário, de uma casa ou do peito. Não estão em parte alguma, pois são desprovidos de existência em si mesmos. Eles estão armazenados na vacuidade.À noite, adormecidos, sonhamos e vemos um mundo inteiro, com paisagens, cidades, homens, animais, e todos os objetos dos sentidos, aos quais adicionamos um movimento emocional feito de desejo, de aversão, etc. Durante o próprio sonho, somos persuadidos da existência real de todos os fenômenos oníricos. Entretanto, uma vez acordados, eles desaparecem. Não existem em parte alguma fora da mente daquele que sonha. É o mesmo processo que se desenvolve durante o bardo do vir-a-ser. Formas, sons, odores, sabores, etc são percebidos como reais. As aparências manifestadas durante a vida que se completou não têm mais existência. Depois, quando a mente entra de novo em uma matriz, são então as aparências do bardo que se desfazem e não existem mais em parte alguma.
Kalu Rinpoche

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Uma breve meditação

Sentando confortavelmente, vamos deixar a mente descansar em seu estado natural. Relaxamos a nós mesmos, nossas tensões, e permanecemos sem tensão, sem qualquer intenção em particular, sem artifícios... Soltamos nossa mente e permitimos que ela fique aberta, como o espaço... Espaçosa, a mente permanece clara e lúcida... Relaxada, solta, a mente permanece transparente e luminosa... Não mantemos nossa mente encerrada em nós mesmos... Ela não está confinada em nossa cabeça, em nosso corpo, no ambiente ou em qualquer lugar. Relaxada, ela é vasta como o espaço que abarca tudo... Ela abarca tudo, todo o mundo e todo o universo. Ela permeia nosso mundo inteiro. Permanecemos descansados, relaxados, neste estado de abertura, ilimitado, totalmente lúcido e transparente.
A abertura e a transparência da mente, similares ao espaço infinito, são sinais do que temos chamado de abertura. Sua consciência livre e clara é o que temos chamado de claridade.
Há também a sua sensitividade, que é a capacidade da mente experienciar tudo em uma desimpedida consciência de pessoas, de lugares e de todas as outras coisas. A mente pode conhecer todas estas coisas e pode reconhecê-las distintamente.
Mais uma vez, sem orientar "a mente" - o sujeito-conhecedor - para fora nem para dentro, permanecemos como estivermos, à vontade e relaxados... Sem afundar num estado de indiferença ou estagnação mental, nossa mente permanece alerta e vigilante... Neste estado, a mente é aberta e desengajada. Isto é a abertura... Na consciência lúcida está a sua claridade... Todos os aspectos que conhece, distinta e desimpedidamente, são a sua sensitividade.
Um obstáculo importante surge como resultado de habitualmente confinarmos a mente ao corpo, que percebemos como sendo o nosso corpo; nos identificamos com este corpo, nos fixamos nele e nos encerramos nele. Para neutralizar isto, é importante relaxar toda tensão, toda inquietação. Tensa e inquieta, a mente fica presa. Estas tensões terminarão causando dores físicas e de cabeça.
Deixe a mente permanecer descansada em sua vastidão lúcida, aberta e relaxada.
Podemos começar a meditar deste modo, mas é fundamental continuar a prática sob a direção de um guia qualificado, que nos conduzirá no caminho correto. Com a ajuda dele ou dela, podemos realizar a vacuidade da mente, dos pensamentos e das emoções, o que é o melhor de todos os métodos de nos livrarmos da delusão e do sofrimento. Reconhecer a natureza das emoções negativas permite que elas sejam liberadas; é portanto essencial aprender a reconhecer sua vacuidade assim que elas surgirem. Se permanecermos ignorantes de sua natureza vazia, elas nos carregarão em sua torrente, nos escravizando e subjugando. Elas têm controle sobre nós porque atribuímos a elas uma realidade que, na verdade, elas não têm. Se realizarmos sua vacuidade, então o seu poder alienador e o sofrimento que elas causam irão desaparecer.
Esta habilidade de reconhecer a natureza aberta e vazia da mente e de todas as suas produções, projeções, pensamentos e emoções é a panacéia, o remédio universal que, em e por si mesmo, cura toda delusão, toda emoção negativa e todo sofrimento.
Nossa mente pode ser comparada a uma mão que está atada ou amarrada; neste caso, a mente está presa pela representação de nosso "eu", "ego" ou "self", assim como pelos conceitos e fixações que pertencem a esta idéia. Pouco a pouco, a prática do Dharma elimina estas fixações e conceitos de auto-estima e, assim como uma mão desatada pode se abrir, a mente se abre e ganha todos os tipos de possibilidades de atividade. Ela então descobre muitas qualidades e habilidades, como a mão livre de suas amarras. As qualidades que são lentamente reveladas são aquelas da iluminação, da mente pura.

Kalu Rinpoche

sábado, 2 de maio de 2009

Natureza vazia da mente



Se você atirar uma pedra no nariz de um porco, ele imediatamente irá se virar e correr. Da mesma maneira, sempre que um pensamento se desenvolver, reconheça-o como sendo vacuidade. Esse pensamento perderá instantaneamente seu poder de apelo e não irá gerar apego e ódio -- e, uma vez que apego e ódio se foram, a realização do Dharma perfeitamente puro irá se desdobrar naturalmente no interior.Na verdade, pode tentar: não há qualquer outra maneira de se livrar do seu apego e ódio enquanto continuar acreditando que eles surgem devido às circunstâncias e objetos externos aos quais estão ligados. Quanto mais tentar rejeitar os fenômenos externos, mais eles vão se lançar de volta contra você. Por isso a importância de reconhecer a natureza vazia de seus pensamentos, simplesmente permitindo que eles se dissolvam.Quando você sabe que é a mente que cria tanto samsara quanto nirvana, e também -- ao mesmo tempo -- que a natureza da mente é vacuidade, então a mente não mais será capaz de te iludir e te puxar pelo nariz.Uma vez que tenha reconhecido a natureza vazia da mente, permitir que surja o amor por alguém que te prejudica se torna fácil. Mas, sem esse reconhecimento, é muito difícil impedir o surgimento da raiva, não é? Olhe bem e você verá que é a mente que realiza ações positivas, é a mente que cria circunstâncias negativas.Como o Buda compreendeu inteiramente a natureza vazia da mente e permaneceu no samadhi do grande amor, o ataque que os Maras fizeram chover sobre ele se transformou numa chuva de flores. Se, no lugar disso, Buda tivesse permitido que o pensamento "Os Maras estão tentando me matar" o provocasse, se transformando em uma explosão de raiva, ele certamente teria ficado vulnerável a essas armas, e teria sofrido muito com os ferimentos provocados.