quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Canal do Lama Samten no youtube

Queridos,

Agora o Lama Samten tem um canal no youtube com todos os seus vídeos que circulam pela internet. Você poderá encontrá-los de forma organizada. Que todos possam se beneficiar com estes ricos ensinamentos.

O endereço é: http://www.youtube.com/lamapadmasamten

Carinho,

Padma Jigme

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Palavras do Meu Professor Perfeito


Quando você não tiver obsessões,

quando você não tiver pendências,

quando você não tiver inibições,

quando você não estiver com medo,você vai infringir algumas regras.


Quando você não tiver medo,você não vai se preocupar em satisfazer as expectativas de ninguém.

Que outra iluminação você quer?É isso!


(Dzongsar Khyentse Rinpoche - extraído do documentário "Palavras do Meu Professor Perfeito")

sábado, 24 de outubro de 2009

TRAVESSIA



"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."


Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eu e outros

Como você deseja ser feliz, então você deve desejar que os outros sejam felizes também. Como você deseja estar livre do sofrimento, então você deve desejar que todos os seres possam também ser livres do sofrimento. Você deve pensar, "Possam todos os seres sencientes encontrar felicidade e a causa da felicidade. Possam ser livres do sofrimento e da causa do sofrimento. Possam sempre ter felicidade perfeita, livre do sofrimento. Possam viver em equanimidade, sem apego ou aversão, mas sim com amor diante de todos, sem qualquer discriminação."
Sentir amor transbordante e compaixão quase insuportável por todos os seres sencientes é o melhor modo de realizar os desejos de todos os buddhas e bodhisattvas. Mesmo se no momento você não puder efetivamente ajudar ninguém de forma externa, medite constantemente sobre o amor e a compaixão durante meses e anos, até que a compaixão esteja inseparavelmente entrelaçada no próprio tecido de sua mente.
Conforme você tenta praticar e progredir no caminho, é essencial lembrar que seus esforços são para o benefício dos outros. Seja humilde e lembre que todos os seus esforços são como uma brincadeira de criança se comparadas à vasta e infinita atividade dos bodhisattvas. Assim como pais dando provisões aos filhos que amam tanto, nunca pense que você fez muito para os outros, ou que já basta. Mesmo se finalmente planejar estabelecer todas as criaturas vivas no estado búddhico perfeito, simplesmente pense que todos os seus desejos foram realizados. Nunca deve haver nem mesmo um rastro de esperança por qualquer benefício para si mesmo em retorno.
A essência da prática do bodhisattva é ir além do autoapego e se dedicar a servir os outros. A atividade do bodhisattva depende da mente, não de como suas ações possam parecer externamente. A verdadeira generosidade é a ausência de apego, a disciplina última é a ausência de desejo e a paciência autêntica é a ausência de raiva. Os bodhisattvas são capazes de dar seu reino, seu corpo, suas posses mais caras, porque superaram completamente qualquer tipo de pobreza interior e estão incondicionadamente prontos para preencher as necessidades dos outros.

Dilgo Khyentse Tashi Paljor

domingo, 11 de outubro de 2009

O Caminho de contemplação e meditação

Há várias maneiras de penetrar no Darma. Este processo que descrevemos agora é o que começa com a própria meditação. Ele pertence ao Mahayana, é um método que combina estudo, instrução e meditação, está baseado nos sutras. Não há nenhuma prática de visualização, recitação de mantras, etc. - pelo contrário, é um processo analítico que utiliza a meditação como instrumento. Utilizamos de ponta a ponta todos os processos cognitivos - nenhuma prática ligada a qualquer yidam ou preces, sadhanas, enfim, nenhum elemento do Vajrayana. Não utilizamos nenhum elemento construído, é um processo que busca diretamente lucidez sem nenhum elemento intermediário que não a cognição e serenidade.
No Vajrayana criamos para depois dissolver, aqui não há visualização de qualquer yidam, ou terra pura, apenas o nobre e sereno sentar. Através do efeito combinado da meditação silenciosa e do processo analítico, removemos todos os elementos até reconhecermos o aspecto incessante da natureza não-construída.
É um processo de purificação gradual: pela lucidez removemos progressivamente nossa fixação ao que foi construído. Em nenhum momento é necessário ter fé ou qualquer outra crença. Não é um processo intelectual, no qual geramos uma teoria. Também não privilegiamos nenhum estado mental especial, seja ele instrumento do caminho ou não, e progressivamente ultrapassamos os diversos estados mentais, produtos de nosso próprio carma eliminando a fixação. É o caminho de dissolução das fixações ao que é virtual.
Não consideramos nenhum elemento puro ou impuro, esta análise não pertence ao processo, mas reconhecemos incessantemente liberdades que não víamos antes. A palavra essencial é liberdade. Olhamos os processos mentais e emocionais não no sentido de localizar o que é bom ou ruim, mas no sentido de eliminarmos as marcas que produzem limitação em nossa liberdade. Quando removemos os obstáculos a visão se amplia, é apenas isto. Não é que existam elementos bons e ruins de fato. A visão Hinayana funciona de outro modo, o bom e o ruim é que legitimam uma visão de mundo. Porém, na visão Mahayana não temos panoramas que possam fixar visões finais e elementos positivos e negativos. A visão que temos do mundo está determinada por fatores sutis e estes fatores é que de fato nos aprisionam. Focamos, então, diretamente o que aprisiona, não os elementos bons e ruins criados pela visão condicionada operando desde estes fatores sutis.
Quando olhamos um filme, há coisas boas e ruins, mocinhos e bandidos, e nos aliamos automaticamente aos elementos que nos são simpáticos. De dentro do contexto do filme dizemos: "é mais adequado me conectar aos personagens positivos", não quero ligar-me aos assassinos, ladrões, estupradores, etc. Como iríamos nos ligar a eles? Assim é a visão Hinayana, operando segundo este enfoque, a mente raciocina segundo o roteiro do filme, aceita a estória e tenta seguir os valores positivos. Na visão Mahayana percebemos que há uma tela e uma luz que é projetada, então podemos nos livrar do próprio contexto proposto pelo roteiro do filme, reconhecemos que há um roteiro e como a experiência de realidade é criada e passa a dominar nossas emoções e dirigir nossa mente. Vemos que nossa identidade está claramente além daqueles personagens.
Na nossa vida cotidiana é o mesmo. As experiências também obedecem fatores sutis que não reconhecemos. Devido a isto, por vidas infindáveis operamos dentro daqueles padrões submetidos a experiências específicas de mundos "virtuais" particulares. A liberação não é estar num lugar seguro dentro do filme, um lugar limpo e bom, mas ver que o processo do filme é construído, é virtual, não é sólido, e, especialmente, que carrega em si liberdades reais, ainda que ocultas e insuspeitadas aos que se fixam na estória. As liberdades são o foco.
Mais adiante desenvolvemos a capacidade de penetrar livremente no contexto do "filme incessante da vida" para ajudar os seres a reconhecer liberdades reais, ocultas pela limitação de sua experiência convencional.
Essencialmente o que fazemos é atravessar esses diferentes panoramas sem ficar cegos pelas visões que surgem. Nosso objetivo é encontrar a estabilidade e a natureza não-construída que está além das aparências. Podemos brincar com isso em uma metáfora: por maiores que sejam os incêndios e explosões nos filmes, a tela nunca queima. A tela é capaz de sustentar as maiores monstruosidades e permanecer incólume, é impossível atingi-la. Assim é nossa própria natureza básica. Conectados ao filme, temos toda a experiência de transitoriedade e nos sentimos inseguros.
No avanço deste processo de retirada de solidez das aparências internas e externas pela prática de meditação, num determinado ponto o próprio personagem que o vive acaba desaparecendo. Não há como isso não acontecer, o personagem é um processo construído e a experiência de liberdade frente a ele acaba aparecendo. Num certo ponto cessa a experiência de alguém que galga etapas ou que passa por essas experiências.
A palavra "mundo" é apenas mais uma manifestação dessa separatividade. Há um ponto onde todas as perguntas sobre deus, iluminação, espaço, tempo, somem. Quanto mais avançamos nos aspectos sutis desse processo de dissolução, menos as teorias, compreensões e cognições fazem sentido. Essas palavras estão dentro da busca de uma compreensão de "como surgiu o mundo", mas, observe, essa pergunta traz dentro de si mesma a noção de separação. É a pergunta de alguém que observa algo separado de si.
Com o progresso da prática esses elementos eventualmente desaparecem. Na linguagem dos mestres: é como uma névoa que se dissipa, ninguém sabe para onde foi; é como um eco, não há origem para aquele som, mas ele surge. Quando procuramos a origem, não há alguém que tenha produzido o som. O efeito existe, mas não há uma identidade que o produza.
A experiência das vidas anteriores, os carmas acumulados, as experiências de mundo, isso tudo é apenas uma faísca. Surgem e desaparecem. Todas as complicações também são assim. Num momento surge samsara inteiro que dura por éons, mas isso nada mais é que uma faísca atmosférica na eternidade. É como um sonho. Parece denso, pesado, mas quando a pessoa acorda, não tem nenhuma importância. Ali dentro, aquilo é vital, muito importante. É como açúcar na água, não sabemos para onde foi. É como uma frágil gota de orvalho. Também é um halo ao redor do sol - surge não se sabe de onde, e desaparece não se sabe como. Tem uma aparência, mas não tem solidez. É como um rosto visto em uma nuvem. Está lá, podemos achar auspicioso, podemos achar bonito, podemos achar parecido com o pai, com o avô. Podemos acreditar que é uma mensagem, mas é apenas um rosto numa nuvem. Também como um arco-íris - surge magicamente e se dissolve magicamente.
Quando cruzamos por esse ponto, cessa a separatividade e percebemos todas as aparências como experiências de aparências. Vemos que toda a densidade anterior existiu inseparável de nossa ingenuidade. Não é boa nem má, é ingenuidade. Quando esse ponto é cruzado, então todos os elementos se transformam. A impermanência, por exemplo, deixa de ser um infortúnio. Passa a ser evidência da liberdade. Se as coisas fossem permanentes, não haveria mudança, não haveria liberdade. A evidência da não-solidez de todas as coisas é a própria evidência de liberdades ocultas aos olhos ingênuos. Essa é a descrição do caminho Mahayana que utiliza a meditação como processo principal.

Lama Samten