sábado, 14 de março de 2009

Os Pensamentos e a Mente

















A fonte de todos os fenômenos do samsara e do nirvana
É a fonte natureza da mente vazia, luminosa,Que tudo abarca, vasta como o céu.

Quando estiver nesse estado de vastidão semelhante ao céu,
Relaxe em sua abertura, permaneça nessa mesma abertura,
Funda-se com esse estado semelhante ao céu —Naturalmente se tornará mais e mais relaxado.Excelente!

Se você se tornar realizado
Neste método de investigar a mente com a visão,
Sua realização naturalmente se tornará vasta
E, assim como o sol brilha livremente através do espaço,Sua compaixão não poderá falhar em brilhar sobre todos os seres não-realizados.


A mente, dividindo a experiência em sujeito e objeto, primeiro se identifica com o sujeito, o "eu", então com a idéia de "meu" e começa a se apegar ao "meu corpo", "minha mente" e "meu nome". Conforme nosso apego a estas três noções fica mais e mais forte, nos tornamos mais e mais preocupados exclusivamente com o nosso próprio bem-estar. Todo o nosso esforço por conforto, nossa intolerância pelas circunstâncias perturbadoras da vida, nossa preocupação com prazer e dor, riqueza e pobreza, fama e obscuridade, louvor e culpa, todos são devidos a esta idéia de um "eu".
Geralmente estamos tão obcecados com nós mesmos que dificilmente pensamos sobre o bem-estar dos outros; de fato, não estamos mais interessados nos outros do que um tigre está interessado em comer grama. Isto é completamente o oposto da visão do bodhisattva. Realmente, o ego é apenas uma fabricação do pensamento, e quando você realizar que tanto o objeto agarrado quando a mente que agarra são vazios, será fácil ver que os outros não são diferentes de si mesmo. Toda a energia que normalmente colocamos para cuidar de nós mesmos, os bodhisattvas colocam para cuidar dos outros. Se um bodhisattva vir que pular no fogo do inferno pode ajudar até mesmo um único ser, ele faz isso sem um instante de hesitação, como um cisne entrando em um lago fresco.

Dilgo Khyentse Rinpoche

terça-feira, 10 de março de 2009

Entrevista da escritora e poeta Tsering Woeser

Considerada a mais influente intelectual tibetana, a escritora e poeta Tsering Woeser, 42, não sabe escrever em tibetano. Nos anos 1960 e 1970, o idioma foi proibido nas salas de aula pelo governo chinês. Foi assim que Woeser foi educada em mandarim. Por dominar a língua, Woeser começou a escrever em chinês livros, poemas e relatos que desafiam a versão chinesa de que o país "libertou" o Tibete. "Sou de uma geração que usa o chinês para atingir um público maior e contar nossa verdadeira história", diz ela na entrevista abaixo. Há pelo menos 300 blogueiros tibetanos desmentindo a versão de Pequim. Ela instalou seu blog em um servidor no exterior, depois de ter dois blogs bloqueados. Seus livros são proibidos na China e foram editados em Taiwan e em Hong Kong. Na obra "Memória Proibida, a Revolução Cultural no Tibete", Woeser publica 300 fotos feitas por sua família que mostram a destruição de mais de mil mosteiros budistas pelas tropas chinesas e as torturas infligidas contra monges entre 1966 e 1975. Seu blog Tibete Invisível (http://woeser.middle-way.net/) foi visitado por 3 milhões de internautas no ano passado, quando o noticiário sobre os protestos no Tibete foi controlado pela mídia estatal chinesa. Dois de seus livros foram traduzidos para o inglês. Woeser conversou com a Folha usando Skype, pois policiais vigiam a entrada do edifício em que vive com o marido -o também escritor e dissidente Wang Lixiong- e ela teme receber lá a visita de jornalistas estrangeiros.

Leia trechos da entrevista.

FOLHA - A propaganda chinesa diz que os tibetanos agradecem por terem sido libertados de um regime escravocrata pela China. A sra. Acha que a maioria dos chineses não tem ideia da repressão que houve por lá?

TSERING WOESER - A maioria dos chineses acredita na versão oficial. Eu mesma aprendi na escola que o Tibete foi liberado pelo exército comunista. Nos ensinavam que o dalai-lama era o demônio em pessoa e ensinam isso até hoje. A história do Tibete foi reescrita, distorcida, como se tivéssemos que agradecer à China por nos ocupar. Mao dizia que queria livrar o Tibete dos colonialistas exploradores. Mas em Lhasa só havia dez estrangeiros em 1950.

FOLHA - O Tibete era uma teocracia muito pobre, onde ainda havia servos em 1949. Os dissidentes não exageram na visão romântica do Tibete pré-comunismo?

WOESER - O Tibete não era um paraíso, não era perfeito, antes da invasão chinesa. Era pobre, muito pobre, uma região despovoada no alto do Himalaia. A China também era pobre. Sim, havia atraso, como em muitas outras partes em 1949. Hoje, 60 anos depois, o Tibete continua pobre.

FOLHA - Seu pai foi oficial do Exército de Libertação do Povo. Como lidou com essa história em casa?

WOESER - Na faculdade, quando estudei literatura chinesa, li "In Exile from the Land of the Snows" (No Exílio da Terra das Neves), de John Avedon, que descreve como a China tomou o Tibete e como o dalai-lama fugiu para a Índia. Eu o dei para meu pai ler, que disse que "70% do livro era verdade". Meu tio, que também foi do Exército chinês, disse que 90% era verdade. Vi que o que aprendi era mentira.

FOLHA - O Tibete passou de um autoritarismo a outro?

WOESER - Sim, o Tibete nunca foi uma democracia, passamos de uma teocracia para o regime comunista chinês. Mas nós somos budistas, acreditamos na harmonia budista, então o povo era mais feliz. Ninguém nos perguntou se queríamos ser "libertados" pelos chineses. Não éramos esse regime atrasado que os chineses pintam. Fomos um dos primeiros países a abolir a pena de morte.

FOLHA - O dalai-lama já disse que aceita a soberania chinesa, mas pede mais autonomia ao Tibete. A sra. Acha possível que isso aconteça algum dia?

WOESER - Não é possível que o Tibete consiga sua independência, e não sou otimista a ponto de achar que algum dia o dalai-lama possa voltar a viver em Lhasa, mesmo o regime chinês continuando. O problema só se solucionaria quando acabasse a ditadura comunista, o que não acontecerá tão cedo.

FOLHA - Gerentes de hotéis precisam avisar a polícia quando um tibetano tenta se registrar em grandes cidades chinesas. Após os protestos do ano passado, ficou mais difícil para os tibetanos se deslocarem?

WOESER - Sim, o medo de que eles organizem protestos é tão grande que os tibetanos são interrogados antes de poder fazer o check-in em um hotel. Há militares em cada canto do Tibete, a população vive vigiada. Acho que os protestos do ano passado já são uma resposta sobre se os tibetanos estão felizes com a China...

FOLHA - O governo lhe explica por que não pode obter passaporte?

WOESER - Acho que o governo chinês tem medo de que o critiquemos lá fora. Eles sabem que um tibetano no exterior correria para a Índia para tentar ver o dalai-lama. É o fracasso da política de desmoralização contra o dalai; não conseguiram acabar com nosso amor por ele. Somos cidadãos de segunda classe, temos ainda menos liberdade do que o chinês comum. Meus livros são proibidos. Não tenho passaporte e não pude viajar para receber prêmios literários. Tenho amigos tibetanos, cidadãos comuns, nada ativistas, que também não podem tirar passaporte.

FOLHA - O budismo foi muito perseguido durante a Revolução Cultural, sob Mao Tse-tung. Hoje a prática religiosa é mais liberada?

WOESER - A religião ainda é perseguida, mas bem menos do que foi durante a Revolução Cultural. Funcionários públicos são desestimulados e até proibidos de orar ou participar de cerimônias religiosas. O mesmo ocorre com estudantes e em alguns locais de trabalho.

FOLHA - Os tibetanos hoje não têm um padrão de vida melhor? A sra. Não acha que muitos poderiam trocar sua identidade cultural e abraçar a identidade chinesa em troca de prosperidade?

WOESER - O governo tenta fazer isso. Após os protestos de março do ano passado, houve aumento de salários para os funcionários públicos no Tibete. Alguns até devem trocar [sua identidade cultural], mas são minoria. A maioria dos tibetanos é pobre hoje, bem pobre. Tudo é mais caro do que no resto da China, pois no alto do Himalaia é preciso importar quase tudo, e se paga por esse transporte. O tibetano foi proibido durante a Revolução Cultural, mas hoje pode-se estudar tibetano ou mandarim. O problema é que, se você não aprender mandarim, não consegue achar emprego.

FOLHA - O dalai-lama pediu aos tibetanos que se rebelassem no ano passado?

WOESER - É mentira dizer que ele estava por trás. Na verdade, os monges começaram um protesto pacífico em 10 de março, que foi violentamente reprimido; eles apanharam, o que só provocou revolta. O quebra-quebra foi espontâneo, contra a repressão. O dalai-lama sempre quis o diálogo, uma via pacífica, mas a raiva se acumulou.

FOLHA - Apesar de bloqueado, seu blog faz muito sucesso. Quem a lê?

WOESER - Recebo dezenas, centenas de comentários, de tibetanos, de chineses que moram no exterior, de tibetanos no exílio. E também de nacionalistas chineses que me atacam. Estes são maioria.

"O tibetano tem menos liberdade do que o chinês comum"

domingo, 8 de março de 2009

O paradoxo fundamental

Ao procurar a mente, inicialmente o mais importante é reconhecer a natureza da mente ao questionar, no nível mais profundo, o que realmente somos. Aqueles que realmente examinaram suas mentes e refletiram sobre o que ela é são realmente raros, e para aqueles que tentam, a procura prova ser difícil. Ao buscarmos e observarmos o que nossa mente é, muitas vezes não a cercamos verdadeiramente; não chegamos realmente a uma compreensão sobre ela.
Sem dúvida, uma perspectiva científica pode oferecer muitas respostas para uma definição de "mente", mas não é o tipo de conhecimento ao qual estamos nos referindo aqui. A questão básica é que não é possível que a mente conheça a si mesma porque aquele que procura, o sujeito, é a própria mente, e o objeto que ele procura examinar também é a mente. Há um paradoxo aqui: posso procurar por mim em todos os lugares, procurar por todo o mundo, sem nunca me encontrar, porque eu não sou o que procuro.
O problema é o mesmo ao tentar enxergar o nosso próprio rosto: nossos olhos estão muito próximos do rosto, mas não podem ver muita coisa dele. Não reconhecemos a nossa mente simplesmente porque ela está muito próxima. Um provérbio do Dharma diz, "O olho não pode ver a sua própria pupila". Igualmente, nossa própria mente não tem a capacidade de ver a si mesma; ela está próxima, tão íntima, que não podemos discerni-la.
Precisamos saber como mudar as perspectivas. Para enxergar nosso rosto, usamos um espelho. Para estudar nossa própria mente, precisamos de um método que funcione como um espelho, para permitir que reconheçamos a mente. Este método é o Dharma, que é transmitido a nós por um guia espiritual.
É na relação com este ensinamento e com este amigo, ou guia, que a mente será gradualmente capaz de despertar para a sua verdadeira natureza e de finalmente ir além do paradoxo inicial, realizando um outro tipo de conhecimento. Esta descoberta é efetuada através de várias práticas conhecidas como meditação.

Kalu Rinpoche

sábado, 7 de março de 2009

O que é a mente?



Apesar de todos nós termos a sensação de possuir uma mente e de existir, nossa compreensão a respeito de nossa mente e de como existimos geralmente é vaga e confusa. Instantaneamente dizemos, "Eu tenho uma mente ou uma consciência", "Eu sou", "Eu existo"; nos identificamos com um "eu", ao qual atribuímos qualidades, mas não conhecemos a natureza desta mente, nem deste "eu". Não sabemos do que são feitos, como funcionam, "o que" ou "quem" realmente são.


Kalu Rinpoche

sexta-feira, 6 de março de 2009

A nova luta do Tibet


Como postado no Blog: Esteja Aqui e Agora.


Várias cidades do mundo já têm protesto marcado no aniversário de 50 anos da revolta contra a ocupação chinesa. O Dalai Lama defende uma 'autonomia genuína'.

Leia a matéria da ÉPOCA aqui!

domingo, 1 de março de 2009

"Se os olhos não fossem solares
Jamais o sol nós veríamos;
Se em nós não estivesse a própria força divina,
Como o divino sentiríamos?"

Goethe