terça-feira, 11 de maio de 2010

A pratica da meditação traz paz interior


Vamos falar sobre o zazen. Meditar é voltar para nosso verdadeiro si mesmo. Esse si mesmo é aquilo que tem a natureza búdica. Aquilo que nós realmente somos. Aquilo que todo universo em volta de nós também é – e que aparece sob a forma de manifestação. Então, esta pura natureza original é aquilo com que nós realmente sentamos, porque o resto todo, todas as nossas ilusões vão sendo descartadas ao longo de meditações, zazen após zazen. Na medida que a gente vai vivendo este processo de fazer o zazen é como se nós fossemos descartando coisas de nós mesmos e ficasse sobrando uma coisa única, pacífica, uma coisa com paz e é por isto que tudo começa a ficar mais bonito porque nós começamos a descartar tudo aquilo que está em volta da nossa verdadeira natureza, da nossa natureza búdica. Esta é uma oportunidade muito interessante porque aqui sentado agora, zazen após zazen, você tem que observar que espécie de pensamento surge na mente. Que mente é esta, porque estes pensamentos e conteúdos que aparecem é aquilo que vocês verdadeiramente são. Então o zazen pode ficar difícil, porque de repente nós vemos a nós mesmos. Quem sou eu? Você é aquele conteúdo que está se apresentando porque você não é algo especial, você é um funcionamento, uma mente funcionando, um corpo funcionando. Como é que você se manifesta? Você se manifesta de acordo com aquilo com que você alimentou a sua mente, com aquilo que você colocou na sua vida dentro de você. Você não consegue evitar. Não tem como obstar isto. Este é o você que você construiu com aquilo que leu, com aquilo que amou, com aquilo que determinou, com os problemas que teve, com os planos que você está fazendo para o futuro. Estas coisas são as que vão aparecerTudo o que eu sinto é conteúdo da minha mente, é só a minha mente não é mais nada, porque se eu tirar o conteúdo todo da minha mente vai sobrar o que? Este lindo dia, este ar entrando pela janela, o sol lá fora, a respiração na almofada, a parede na nossa frente, e isto é perfeito. Torna-se imperfeito porque nós deixamos entrar todo o resto, todos aqueles conteúdos e são estes a verdadeira perturbação que nós temosVoltar. Este voltar para o momento presente é realmente difícil por causa de todos os conteúdos com que nós nos alimentamos. Por isto na vida real nós deveremos evitar também as coisas que entram na nossa mente e a alimentam de forma errada. São os filmes, os programas de TV, os vídeos etc, as conversas e todas as coisas que não são boas. Vocês já sabem que não são boas e são perturbações, conteúdos que não constroem felicidade para você, mas nós somos muito viciados neles e então nós vamos procurá-los porque eles são prazerosos ou meramente interessantes. Até que você tenha uma mente imperturbável, você tem que evitar estas situações. Quando você tem uma mente que não deixa entrar os sentimentos você pode assistir a um filme vendo apenas o filme, sabendo que é meramente fantasia e não sentindo abalos. Se você não os tem, se os sentimentos conseguiram ficar de fora, então você está pronto para ver. Agora enquanto você assistir e ele o influenciar então a sua mente não está livre ainda. Você ainda é alimentado, arrastado por aquelas coisas. Quando você vê alguém no filme, um personagem que está procurando vingança e torce por ele, enquanto você sente esta satisfação no lugar dele a sua mente não é livre. Você é arrastado por aquilo que está vendo. Então se você é arrastado por aquilo que está vendo tem que evitar tudo o que arrasta.Por isto em um retiro a gente faz um modelo. Este modelo é não alimentar a mente com nada. Então zero notícias, zero leituras que não sejam o Dharma, zero conversas, zero músicas, nada. Os sons que nos chegam já são suficientes quando vocês estão sentados no zazen, já tem de madrugada os animaizinhos que correm em cima do telhado, depois os cantos dos galos, as cigarras. As coisas estão bem quando você ouvir estes sons e sentir grande alegria como se fossem presentes. Estar aqui parado, sentado, que lindo o som desta cigarra começando a tocar, parece um prazer. Aí você está bem porque você está realmente ouvindo a cigarra. Se tivesse uma televisão na sala nós ignoraríamos a cigarra, nós não estaríamos aqui de verdade.Nós somos um com o universo inteiro mas não o sentimos Não percebemos assim. Nós nos sentimos como? Separados, cada um sentado na sua almofada. Por isso em retiros zen a gente faz tanta pressão no sentido tudo junto, tudo junto. Não pense, não decida, não faça, vá junto com o fluxo, obedeça sinais sonoros, comece as coisas na hora junto com todos, termine junto com todos, faça reverência junto com todos, não cogite, não ache bom, não ache ruim, faça junto, só isto. Para que? Para voltar, voltar para nós mesmos porque nós nos perdemos de nós mesmos com os nossos pensamentos. Se nossa mente estiver silenciosa então há espaço para a unidade. O homem cansa, a gente cansa e então surge o espaço para a gente perceber a Vida-universal. Quando vocês estão em zazen prestem bem atenção, às vezes o sono começa a tomar conta e naquele momento que o sono está chegando se a gente não se entrega para o sono e abre os olhos, aquela mente que vem a ser um pré-sono ela é uma mente muito especial, muito vazia, então este é um bom momento de agarrar aquele estado. Mas se você deixar que o sono se instale aí você dorme e entram outras fantasias. São as fantasias dos nossos sonhos que também manifestam o conteúdo da nossa mente. Então enquanto estamos fazendo zazen estamos sonhando acordados e se nos libertarmos do sonho então poderemos ver a perfeita felicidade e é a percepção da Vida-universal, da unidade. Quando percebemos isto, nosso verdadeiro eu, então nos sentimos muito, muito bem e aí desejaríamos não sair daquele estado nunca. Mas quando surge este sentimento, este sentimento também é uma armadilha porque é armadilha ficar neste estado prazeroso. E este estado prazeroso a gente começa a atingir na prática, mas também não deve se agarrar a ele, tem que ir mais longe.E por isto na Escola Soto, Dogen já ensinou assim: sente, sem procurar atingir a iluminação, só pratique aqui sentado porque já é uma mente iluminada a mente sentada ou tem grande potencial de ser. Não tente alcançar nada porque se você ambicionar alcançar isto também vira outra armadilha. Uma mente aquisitiva, um materialismo espiritual, a tentativa de obter algo para si mesmo. Não precisa. Só sente e olhe, mais nada.Às vezes a palavra zen é muito mal usada. Quando dizemos, esta pessoa é zen. Não. Zen também é encontrar a infelicidade, o sofrimento, então devemos andar dentro do sofrimento completamente. Saber sofrer também é a prática do zen. Entender a infelicidade completamente, percebê-la inteiramente. O pensamento que vem com ela, o sofrimento que vem com ela, a angústia que vem com ela também.


Retirado do Blog O Pico da Montanha

Monge Genshô (palestra em sesshin)

sábado, 8 de maio de 2010

A Natureza da Mente




A verdadeira experiência da natureza essencial da mente está além das palavras. Querer descrevê-la é como a situação de um mudo que quer descrever o sabor de um doce em sua boca: ele não tem um meio adequado de se exprimir. Mesmo assim, gostaria de oferecer algumas idéias que aludem a esta experiência:

A mente é o que pensa, "Eu sou", "Eu quero", "Eu não quero"; é o pensador, o observador, o sujeito de todas as experiências. Eu sou a mente. De um ponto de vista, esta mente existe, já que eu sou e eu tenho a capacidade de ação. Se eu quero ver, eu posso ver; se eu quero ouvir, eu posso ouvir; se eu decido fazer algo com minhas mãos, eu posso comandar meu corpo, e assim por diante. Neste sentido, a mente e suas faculdades parecem existir.
Mas se buscarmos por ela, não podemos encontrar qualquer parte dela em nós, nem em nossa cabeça, em nosso corpo ou em qualquer outro lugar. Então, desta outra perspectiva, ela parece não existir. Portanto, de um lado a mente parece existir, mas por outro lado não é algo que verdadeiramente exista.
Por mais exaustivas que sejam nossas investigações, nunca seremos capazes de encontrar quaisquer características formais da mente: não tem dimensão, nem cor, forma ou qualquer qualidade tangível. É neste sentido que ela é chamada de aberta, porque é essencialmente indeterminada, desqualificada, além do conceito e, assim, comparável ao espaço. Esta natureza indefinível é a abertura que nos faz experienciar a mente como um "Eu" que possui as características que habitualmente atribuímos a nós mesmos.
Mas devemos ter cuidado aqui! Dizer que a mente é aberta como o espaço não é reduzi-la a algo não-existente, no sentido de ser não-funcional. Como o espaço, a mente pura não pode ser localizada, mas é onipresente e permeia tudo; ela abraça e permeia todas as coisas. Acima de tudo, ela está além da mudança e sua natureza aberta é indescritível e atemporal.

Kalu Rinpoche

terça-feira, 4 de maio de 2010

Alice

Alice daria uma ótima praticante do dharma

Respiro quando durmo é o mesmo que durmo quando respiro?

Quebrando a lógica comum Lewis Carroll abre uma brecha para outras possibilidades, uma nova percepção. Faz isso também "sabotando" a linguagem, criando "koans". Alice pode então penetrar em outro mundo, um buraco escuro e perigoso (é como vê a sociedade esta outra possibilidade, ilimitada). Dentro deste outro mundo os personagens perguntam a ela quem ela é, e duvidam de sua identidade. Até que Alice diz: "Estou tendo este sonho, faço as coisas acontecerem" e a partir daí a história muda de rumo e ela escapa de um destino condicionado, partindo para a grande China. Nos cinemas.

Retirado do Blog Sangha Margha
http://sanghamargha.blogspot.com/

domingo, 25 de abril de 2010

Néctar de pura sabedoria e compaixão

Queridos,

Neste ultimo final de semana, tivemos a visita das Relíquias do Buda em Salvador. Que momento maravilhoso foi poder estar perto de tantos mestres especiais e meditar, uma experiência ímpar. As Relíquias continuam ainda seguindo viajem, se puderem comparecer as próximas exposições recomendo.

Saúde e muita paz!!!!

Marcio

domingo, 18 de abril de 2010

Vídeo Projeto Maitreia

Queridos,vejam o belo vídeo do projeto Maitreia e das relíquias do Buda.

Amor e paz!

Marcio

Reliquias do Buda


As exposições das Relíquias do Budas e dos Mestres estão tendo grande repercussão. Tivemos mais de duas mil pessoas em dois dias em Viamão e aqui em Florianópolis, onde estou agora, o sucesso se repete. Falta ainda a visita a mais sete cidades e provavelmente uma oitava incluída de última hora que é Manaus. Convidem os amigos, ajudem na parte prática, ofereçam meios hábeis e recursos, não deixem de ir!
Muito expressivo que a imagem central da exposição, com 1 metro de altura, tenha sido feita na Brasil por um artista popular da cidade de Tracunhaém. Ele fez um primeiro original em argila copiando uma imagem tibetana de 15 cm de altura, criou um rosto com aparência mais brasileira. Posteriormente, um outro artista converteu esse primeiro original em um molde em gesso e produziu e finalizou a imagem em fibra de vidro com aparência de cobre. Assim temos uma boa imagem, um Buda Maitréia nordestino presidindo a mandala da exposição e viajando junto com as relíquias!


Lama Samten

domingo, 28 de março de 2010

INTOLERÂNCIA




QUERIDOS COMPANHEIROS,

DEPOIS DE UM LONGO TEMPO VOU RETOMANDO AS POSTAGENS...


AMOR E PAZ!!!!


Os recentes acontecimentos mundiais, em especial a grande cadeia de ódios e provocações ocorrida em função da publicação de caricaturas do profeta Muhammed (Maomé) na Dinamarca e em países europeus, tornaram-se fatores inevitáveis de análise e ponderação por todas as pessoas que reconhecem o grau de influência dos gestos humanos em cada pequeno detalhe de nossas vidas íntimas. Um dos maiores perigos para nossa estrutura de vida está no risco de optarmos pela alienação, pela não observação consciente das coisas á nossa volta sob uma ampla margem de tempo e espaço: a característica mais marcante do egoísmo ignorante está no fato de que ele jamais levanta os olhos para além de si mesmo, de seu pequeno mundo de questões próximas e cotidianas. Na verdade, o mais saudável exercício de auto-observação se dá através de uma constante contemplação do mundo, aliada a uma constante observação de nós mesmos. Aprender a viver o cotidiano próximo sem nos alienarmos do cotidiano distante é uma lição fundamental a ser aprendida.
Portanto, não pense que você está imune aos atos históricos, aos acontecimentos distantes, aparentemente fora de seu alcance cultural ou geográfico: o que ocorre lá também pode estar ocorrendo - sob outra aparência - em sua própria casa, na intimidade de seus amigos, seus desafetos ou de seus entes queridos. Eis porque, ao escrever sobre o exercício buddhista de consciência e amadurecimento pessoal, eu sempre pretenda também escrever sobre temas humanos. A cada palavra que escrevo tenho consciência de que minha própria intimidade não pode ser esquecida; que ao refletir sobre temas mundiais devemos saber lembrar dos fatos comuns de nossas vidas rotineiras, os pequenos detalhes aparentemente sem importância, mas que representam o cerne de todas as nossas ações e suas conseqüências. O correto equilíbrio entre o individual e o coletivo, entre os grandes fatos e os pequenos detalhes é o que pavimenta o Caminho Óctuplo, a senda de consciência e cura dos ensinos de Buddha.
E contribuir para o debate saudável sobre as facetas da intolerância é muito importante, a despeito do fato de haver tantas vozes discordantes no ar, e esta própria discordância ser - ele mesma - a chave para a sustentação da intolerância em suas várias e cruéis expressões. Na crise mundial de interpretações que ocorre neste momento, vemos o exemplo de como as relações interpessoais estão falhas em todos os seus níveis, em todas as culturas modernas, em todas as classes sociais. As instituições políticas, sociais e religiosas insistem em sustentar seus padrões de ação em procedimentos frios, excessivamente formais, distantes de qualquer calor humano. A origem da crise sobre as caricaturas se deu justamente pela frieza de contato e deliberado distanciamento de ações moderadoras. As partes envolvidas não souberam reconhecer suas próprias inabilidades, e todo o processo se desenvolveu de uma simples ação de mídia insensível e inconseqüente para uma explosão de frustrações antigas.
Na verdade, o fundamento comportamental que desencadeou os protestos nada têm a ver com desenhos debochados e dogmas desrespeitados: têm a ver como o abismo de inconsciência e pobreza de percepção que assola a humanidade há tempos, e que está cada vez mais cristalizada em perspectivas egoístas, fechadas em si mesmas, e em um histórico de atitudes políticas extremamente imaturas - ainda que feitas por homens e mulheres muito sérios, racionais e orgulhosos de sua capacidade e experiência. No caso da cultura moderna ocidental, apesar das declarações educadas e politicamente corretas, o fato é que o Islamismo é visto como artífice de uma cultura do medo e do terror, do fanatismo e da estupidez. Poucos conseguem ver além das manifestações distorcidas, e poucos sabem que o ocidente também já abrigou - e ainda abriga - centenas de grupos intolerantes e distorcidos, fanáticos e intimidadores. A cultura islâmica não é mais responsável pela insanidade do mundo do que a nossa. Já no caso das sociedades islâmicas, sua própria condição estrutural religiosa impede que elas superem sua concepção aguerrida e determinada, característica sua prática religiosa. Junte-se a isso séculos de sentimentos de humilhação e rancor pela falta de composição construtiva entre as políticas ocidental e médio-oriental, resultando em um acúmulo de desprezo e descrenças, alimentados pela intolerância mútua.
Como eu já havia comentado em ensaios anteriores, o momento em que vivemos é extremamente grave e importante, está ocorrendo uma transformação mundial de corações e mentes. Algo sutil está nascendo nas ultimas décadas, e este algo não pode mais ser interpretado sob a luz de uma simples teoria sociológica, uma conjetura antropológica ou um fenômeno político-cultural; a ferida atual da humanidade está expondo a doença mais antiga e mais constante que vêm assolando todos os seres humanos: a doença da ignorância perceptiva, aquela falta de discernimento e atenção que provoca em nós a egoísta tendência a defender argumentos intolerantes ao extremo, e jamais admitir nossos erros.
Os argumentos são intolerantes de ambos os lados porque, mesmo quando expostos sem violência, eles não se baseiam em um exercício de reflexão contemplativa. Eles são intolerantes porque são parciais, insistentes em suas posições, sem nenhum mérito lógico maior do que seus próprios parâmetros teóricos em política, em sociologia ou religiosidade. E são, afinal, mal-humorados. Até mesmo a imprensa agiu com falta de humor, sem senso de flexibilidade. E a falta de humor, a incapacidade de sorrir e rir para si mesmo e para o mundo, é uma das mais expressivas provas da falta de discernimento e aceitação sábia da diversidade das coisas. A dificuldade não está no simples fato de que os homens possam discordar em determinados momentos e sob certas circunstâncias; está na terrível constatação de que os homens estão sendo incapazes de concordar em todas as circunstâncias. Existe um movimento subliminar de reafirmação das distâncias, de elogio às diferenças, e da divinização de uma liberdade gratuita de expressão que é - à parte sua óbvia impossibilidade - pertinente apenas nos limites restritos de nossa compreensão sobre o que é válido exprimir.
A prática da real liberdade, a liberdade de percepção que surge através do exercício de consciência contemplativa todos os dias, em todas as situações, nunca foi considerada sequer como tema menor pelas grandes estruturas de poder da humanidade. Assim, estamos vendo multidões em fúria ignorante, a mídia incorreta em sua postura falsamente libertária, e os governos desconfiados e beligerantes entre si. Eis o trinômio de energias que domina as nossas vidas neste momento: a ilusão passional das massas, incorreção política das instituições, e a paranóia irresponsável dos governos. O fator mental que fomenta estas condições trágicas chama-se, mais uma vez, inconsciência.

O exercício da contemporização, da atitude consciente de concordância, não significa mais um rito passivo ou hipócrita de palavras formais e ações de boa vontade; na verdade, em muitos momentos a boa vontade pode impor modelos e regras extremamente prejudiciais e ingênuas. A ação mais correta aponta para o esforço claro e honesto em desconstruir os modelos inconscientes e ilusórios que dominam as mentes humanas, ao mesmo tempo em que procuramos exercitar uma interação saudável entre convicções pessoais e o respeito à diversidade alheia - não de forma racional, didática, mas com sensibilidade, alegria e criatividade - chegando, enfim, a uma concordância integrativa, a uma nova postura diante do problema. Ninguém está plenamente correto, ninguém está plenamente destituído de razão: todos os extremos - excetuando aqueles tão doentios e insalubres que já não podem mais ser considerados minimamente coerentes - possuem elementos úteis para uma reconstrução das ações que seja a favor de todos, sem exceção. Como Gautama Buddha já afirmava a mais de 2500 anos, é perfeitamente possível criar uma integração dos extremos, um caminho do meio realmente saudável a todos os interessados.
O mais triste nesta crise moderna é que ela está baseada em tão graves equívocos perceptivos que já pode ser considerada a culminância de milênios de inconsistências humanas. A intolerância que domina as sociedades atuais não é absolutamente fruto de um conflito de civilizações: é fruto de um conflito mental entre a obliteração racional egoísta e a sensibilidade consciencial, um fenômeno endêmico e doentio de carências, medos e ódios derivados da falta de sabedoria e de correto entendimento interpessoal, e de uma completa falta de integratividade e contemporização.
Estamos sofrendo de uma doença consciencial. Nossa forma de perceber as coisas, o modo como defendemos aquilo que achamos ser correto, se prende a um engano crucial. Mesmo considerando o fato de que a humanidade se divide em vários nichos onde os níveis de consciência variam do mais obscurecido ao mais diversificado, ainda assim a proposição meditativa buddhista afirma ser possível fomentar uma transformação ampla do ser, com a consolidação de níveis conscienciais mais saudáveis e construtivos. Não será uma tarefa fácil e principalmente o buddhismo não se propõe a apresentar uma fórmula coletiva de cura; na verdade, a proposta de Buddha é absolutamente íntima, partindo do pessoal para o coletivo em uma sucessão de aberturas conscienciais validadas e reforçadas por ações integrativas, inclusivas e concordantes.
A humanidade, entretanto, ainda está em uma fase inicial de aprimoramento perceptivo. Ainda que tenha atingido um alto grau de desenvolvimento intelectual, e a didática, metodologia e teorização das ciências humanas sejam exemplo de sua extrema capacidade cerebral, por outro lado nossa relação sensitiva com o cosmos ainda sofre graves limitações. Eis o paradoxo humano: somos criaturas intelectualmente brilhantes, mas com um frágil discernimento, limitado pelos nossos condicionamentos egoístas. Justamente por essa condição, a maior parcela da humanidade sofre com a miséria e exclusão social, enquanto todas as ações políticas e religiosas se baseiam em uma compreensão pobre do papel do Homem frente ao seu meio.
Não considero, absolutamente, que esta situação atual possa ser resolvida rápida e definitivamente apenas através de teorias e palavras; a prática é necessária. Eu sei, por força de minha própria prática pessoal, que nossos hábitos mentais condicionados pertencem a um complexo de experiências psico-emocionais profundamente arraigadas em nosso ser, desde a infância mais tenra, exigindo esforço para sua superação. Portanto, nestes meus trabalhos não estou teorizando soluções fáceis e imediatas para a problemática perceptiva humana. Mas procuro desenvolver um complexo de argumentos que visam ampliar nossa compreensão do único aspecto que pode ser considerado a fonte primal de todas as neuroses comportamentais e sensitivas humanas: a falta de consciência. Quando a humanidade souber reconhecer a prática meditativa como base para a melhoria de sua compreensão das coisas, a ignorância de atenção, discernimento e discriminação corretos será curada.
O momento é de reflexão e cuidado. É um momento onde o exercício da contemplação e a prática de compreensão e sensibilidade devem ser levados à serio, e realizados cotidianamente. A grandeza espiritual humana é muito maior que sua miséria perceptiva atual. E quanto a nós, simples indivíduos, precisamos observar as convulsões político-religiosas atuais com mais seriedade e atenção. Não se aliene dos fatos; aproveite sua sensibilidade e a use a favor da paz e compreensão no mundo. Faça isso em sua própria casa, com você mesmo, entre seus amigos e durante as ações aparentemente banais de seu cotidiano: a cura de si mesmo já é um passo grandioso para a cura da natureza humana. E será assim, através do esforço sutil de indivíduos conscientes, que o terror e a intolerância serão expurgados do coração do Homem.

Pratique a Paz.


Por Tam Huyen VanFevereiro, 2006Ano Buddhista 2549.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Conspiração silênciosa


A Terra é um pequeno e raro planeta que vem possibilitando a vida biológica dos seres advindos do carbono, habitado por nós, seres humanos gerados pelo húmus, e por isso mesmo, dependemos dela! Apesar disso, infelizmente, estamos correndo o risco de sermos extintos porque acabamos criando e aprendendo a conviver com a destruição da camada mais exterior do planeta, impermeabilizando o solo e a atmosfera além de estimularmos o egoísmo, a violência e uma infinidade de iniqüidades. Com isso somos continuamente expostos ao medo, a dor e a tristeza e acabamos nos tornando sofredores continuamente assustados com a poluição, o aquecimento global, o risco eminente de catástrofes e de mais exclusão. Reativa e condicionadamente, essa situação nos leva para o consumo exagerado de todos os tipos de coisas inúteis e de drogas, o que agrava mais ainda a situação, apesar de proporcionar alívio devido à sensação de anestesia momentânea. Mas, simultaneamente, um movimento silencioso, tranqüilo e oculto está acontecendo, e certas pessoas estão sendo tomadas por uma dimensão mais elevada, como uma espécie de luz que as desperta e remete para um estado de amor incondicional, consigo mesmas e pelos próximos, com sentimentos de plenitude e fé!
Esta conspiração vai produzindo uma revolução silenciosa que está se instalando de dentro para fora e de baixo para cima! É uma operação global. Uma conspiração espiritual. Existem células dessa operação em cada canto do mundo, fazendo que atual percepção horizontal, superficial, imediata e material do nosso planeta, também inclua as dimensões verticais, profundas, implicativas e espirituais. Sua manifestação é sutil, atuando como uma espécie de onda que vai sensibilizando e mobilizando cada vez mais pessoas, até que essa onda se torne uma espécie de tsunami da consciência, devido à quantidade de seres vibrando com ela, produzindo a massa crítica necessária para mais um salto quântico de evolução!
Dificilmente a grande massa alienada no consumo, nas dívidas e no trabalho, irá assistir na TV, ouvir nos rádios ou ler a respeito dessa conspiração nos jornais. Porque, por um lado, a mídia da sociedade de consumo ainda não está sensível e corajosa para divulgar esse movimento e, por outro lado, aqueles que estão engajados nele não estão buscando glória, não usam uniformes e nem fazem questão do poder ou da gratidão. Por isso o processo vai acontecendo sem alarde.
Os membros dessa conspiração são recrutados por meio da luz do autoconhecimento que, inevitavelmente, produz ampliação da consciência e compromissos com a humanidade e com o planeta, ao adquirirem ideais de inclusão, sustentabilidade, ecologia e amor universal. Então, essas pessoas vão surgindo de diversas formas, lugares, cores, formações, idades e quantidades diferentes, e são oriundas das mais variadas raças, culturas, costumes, credos religiosos e classes sociais. Porém, cada novo adepto passa por uma espécie de rito onde ele tem que morrer, para sair dos condicionamentos e dos aprendizados paralisantes, para poder renascer orientado na direção do caminho da luz da consciência, convicto de que ele tem que servir para ser. Porém, muitos servidores dessa nova ordem trabalham anonimamente e silenciosamente, fora de cena e dos holofotes, em cada cultura do mundo, nas grandes e pequenas cidades, em suas montanhas e vales, fazendas, vilas, tribos ou ilhas remotas.
A maioria das pessoas cruza por seus servidores nas ruas e nem percebem, porque eles seguem disfarçados, sem aparições espetaculares, realizando seus ofícios, que se tornou sagrado, sem se importarem com quem irá ficar com os louros da vitória, porque, para eles, o servir é mais importante do que o ter e, neste sentido, já encontraram a maior recompensa.
Muitas vezes os participantes dessa conspiração se encontram pelas ruas, trocam olhares de reconhecimento e seguem seus caminhos, a maioria está disfarçada em seus empregos comuns e normais, mas sempre que podem, despem-se de suas personas normóticas e realizam o verdadeiro trabalho, apesar de que mesmo disfarçados e imiscuídos na multidão inconsciente e enredada nos automatismos seu trabalho está sendo feito, porque a consciência da presença sempre irá interferir na ambiência, ou seja, no entorno objetivo e intersubjetivo.
Esse novo “exército da consciência” lentamente está construindo um novo mundo com o poder de seus corações e mentes, com alegria e paixão, apesar de toda adversidade e iniqüidade da nossa realidade. São guerreiros pacíficos e silenciosos que cumprem as ordens do poder superior, representante da inteligência espiritual unitiva, jogando bombas suaves de amor sem que ninguém note. Essas bombas muitas vezes são veiculadas nos poemas, abraços, músicas, fotos, filmes, livros, palestras, aulas, entrevistas, palavras carinhosas, meditações, preces, danças, ativismo social, sites, blogs, atos de bondade ou até de indignação, caridade ou solidariedade.
Cada guerreiro da consciência se expressa de forma única e pessoal, com talentos e dons individuais, mas todos estão engajados no mesmo propósito que é a mudança que queremos ser e ver no mundo! Essa é a força que move seus corações, dando a cor-agem para promoverem à transformação silenciosa que provocará a mudança de paradigma necessária, contribuindo para a evolução criativa e espiritual da humanidade. Eles estão conscientes que suas ações devem ser silenciosas e humildes, apesar te terem o poder de todos os oceanos juntos. Eles vão contribuindo lenta e meticulosamente na trans-formação humana, promovendo o amor como a maior e legítima religiosidade do planeta, sem pré-requisitos de grau de educação e sem conhecimentos excepcionais para essa compreensão, porque esse conhecimento nasce da inteligência do coração, escondida pela eternidade, no pulso espiritual e evolucionário presente na imanência de todo ser humano.
Então, que cada indivíduo seja a mudança que quer ver acontecer no mundo, pois ninguém pode fazer esse trabalho por você! Desta forma, sincronicamente, você está sendo recrutando para se juntar a esse exército que têm todos os seus membros continuamente de portas, coração e mentes abertas! Em pé e a ordem para o trabalho de edificação de um mundo mais livre, igual e fraterno.
PAZ e BEM

WALDEMAR MAGALDI FILHO (wmagaldi@gmail.com) é psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Autor do livro: “DINHEIRO, SAÚDE E SAGRADO – interfaces culturais, econômicas e religiosas à luz da psicologia analítica”. Mestre e doutor em Ciências da Religião, que atuou tanto no meio corporativo de empresas multinacionais quanto no comércio varejista. Atualmente, atende clientes em seu consultório, apresenta palestras em empresas, coordena e ministra aulas nos cursos de Psicologia Junguiana; Psicossomática e Dependências, Abusos e compulsões da FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Entrevista Monja Coen

Queridos,

Segue o link de uma entrevista com a Monja Coen no Bate Papo UOL. Maravilhoso ouvir a trajetória desta grande mestra.

http://tc.batepapo.uol.com.br/convidados/arquivo/religiao/ult1756u36.jhtm

Amor e paz

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Queridos leitores do blog, estava em retiro e aos poucos vou retomando as postagens. Espero que estejam todos bem. Deixo vocês com o primeiro de 10 vídeos do querido lama Samten falando sobre a ação do Buda em meio ao mundo.

Amor e Paz!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Noite de Lua Cheia



Queridos,


Mais um ano se encerra e assim entramos naquele processo de reflexão do que foi positivo, do que precismos melhorar, o que precisa ser reforçado e o que precisa de fato ser ultrapassado. Neste último ano muitos entraram em contato com este blog, desta forma entrei em contato com novos irmãos e encontrei novos "caminhantes", pessoas maravilhosas que buscam trilhar o difícil caminho espiritual. Agradeço então a todos que contribuíram com o Meditar e que tornaram este espaço um lugar de profunda reflexão. Que 2010 venha cheio de novidades interessantes e que possamos continuar a construir esta imensa rede de benefício a todos os seres. Agradeço também a esta imensa rede de blogs, extremamente sérios, que buscam o contato de forma genuína e pura. Não poderia deixar de agradecer a generosidade de todos os mestres que permitem a publicação e divulgação de seus maravilhosos textos.


Em janeiro estarei viajando mas espero poder continuar em fevereiro esta nossa bela troca de experiências.


Boas festas!!!! Um 2010 cheio de saúde, amor e muita paz!!!!!


Aproveitem a virada contemplando a Lua Cheia.


Com carinho,


Marcio - Padma Jigme

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Que possamos celebrar este momento com muita sabedoria.
Um feliz natal para todos.

Amor e paz!!!!