sábado, 7 de agosto de 2010

Meditação Shamata (3)




A meditação shamatha não tem de ser para o objetivo de atingir a iluminação. Se não estiverem interessados na iluminação ou no nirvana, vocês podem praticar o shamatha para serem naturais — para não serem muito dominados pelas circunstâncias. Na maioria do tempo não estamos sob controle de nós mesmos. Nossa mente é sempre atraída ou distraída por algo — nossos inimigos, nossos amantes, nossos amigos, tudo — esperança, medo, inveja, orgulho, apego, agressão, tudo isto. Então, em outras palavras, todos estes objetos, estes fenômenos, o mundo controla nossa mente, não temos controle sobre ela. Talvez possamos controlá-la um pouco por meio segundo, mas se estivermos um estado emocional extremo, nós vamos perdê-la. Agora, como disse antes, deixar nossa ambição é um pouco como a renúncia da qual os buddhistas fazem. Se lermos a vida do Buddha, o Buddha renunciou ao seu palácio, à sua esposa, ao seu filho, aos seus pais, e saiu do palácio em busca da iluminação. Estritamente do ponto de vista do shamatha, podemos dizer que o Buddha estava tentando diminuir sua ambição, ou pelo menos tentando ver aonde ele estava objetivando, o que estava tentando atingir. Ele também estava tentando ver o aspecto fútil do que quer que estivesse tentando atingir. Então, ele planejava abandonar, para atingir o "poder de deixar". Para resumir, o "poder de deixar" é muito importante se vocês quiserem se tornar praticantes de shamatha.
Fazemos a meditação shamatha de modo que possamos atingir este "poder de deixar", ou para entendermos a ruína de nossa obsessão, a ruína de nossa fixação. De fato, como descobriremos, esta técnica é realmente dar a nós mesmos algum tempo ou a oportunidade de desatar os nós que temos. É por isso que alguns dos grandes meditadores dizem que, efetivamente, uma meditação como o shamatha é uma ocasião rara na qual estamos realmente sem fazer nada.
Geralmente, estamos sempre fazendo algo, estamos sempre pensando em algo, estamos sempre ocupados. Conforme ocupamos a nós mesmos, muito nos perdemos nestes milhões de obsessões ou fixações. Aqui, quando meditamos, não fazendo nada, todas estas fixações serão reveladas. Talvez para os iniciantes seja um pouco assustador às vezes, mas lentamente vocês obterão algum tipo de confiança interior para encarar isto. E perceberão que, automaticamente, estas fixações diminuirão — sem fazer nada. Os textos clássicos de instruções de meditação diriam que é como uma cobra se desenrolando; nossas obsessões se desfarão por si mesmas. Vocês obterão esse tipo de habilidade.

Dzongsar Jamyang Khyentse, Thubten Chökyi Gyamtso

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