domingo, 30 de janeiro de 2011

Allan Wallace


Alan Wallace tem uma característica especial que o diferencia dos seus pares na área da física e da neurobiologia: foi durante 20 anos um monge budista, morou em Dharamsala, na Índia, traduziu mais de 30 livros do tibetano para o inglês, estudou com os mais altos mestres do Tibete e ainda ocupou o posto de intérprete oficial de sua santidade, o Dalai-Lama. Hoje, novamente como cientista e físico e autor de quatro importantes livros sobre ciência e práticas contemplativas, Wallace comanda um verdadeiro exército de neurocientistas, antropólogos, sociólogos e psicólogos no Instituto Santa Bárbara de Estudos da Consciência, na Califórnia.

Sua missão principal é analisar os efeitos da meditação nos seres humanos em dezenas de experimentos e numa enorme gama de voluntários – desde de quem nunca meditou até monges com milhares de horas dedicadas à prática. As descobertas desses estudos surpreendem e seu olhar sereno sobre o despertar interno da consciência traz esperança para a humanidade. Alan Wallace esteve em junho no Brasil a convite do Centro de Estudos Budistas Bodisatva para dar palestras em várias capitais brasileiras e lançar seu ultimo livro, As Dimensões Escondidas.

A meditação não é necessária à sobrevivência. Que vantagens poderia haver para um ser humano comum a prática de meditar todos os dias?

Se você tiver um cachorrinho, der a ele um bom prato de comida e deixá-lo namorar as cachorrinhas da vizinhança, ainda assim você não pode dizer a ele: “Ok, cachorrinho, estou dando uma boa alimentação, deixando você ter o sexo que quiser, então, agora, já que você tem tudo, vamos para um lugar tranquilo para tentar meditar um pouquinho...” (risos) Provavelmente seu cachorro vai preferir tirar uma soneca para daí a pouco querer comer de novo, ter mais sexo e assim por diante. Nosso lado animal não quer saber de meditar e pode viver perfeitamente bem sem a meditação ou qualquer outra prática espiritual. Mas temos a consciência. É ela que vai se interessar por alguma coisa além da satisfação das necessidades físicas. Mas, em todo caso, é mais fácil quando temos as necessidades materiais básicas satisfeitas. É difícil querer meditar quando se tem fome, frio, quando se está doente ou não se tem um teto. Um praticante experiente pode fazer isso, mas para uma pessoa comum é difícil.

Mesmo assim, a resistência pode ser grande. Por quê?

Quando as pessoas atingem esse nível básico de segurança e felicidade materiais, geralmente vão querer mais do mesmo. Isto é, se elas têm uma casa, vão querer uma mansão, se têm um carro, vão querer outro, se têm alimento suficiente, vão sofisticá-lo. Querer mais da mesma coisa para satisfazer nosso lado animal é o que acontece para pessoas sem muita imaginação. Mas, se usarmos a inteligência e a memória únicas de um ser humano, vamos ver que ter mais da mesma coisa realmente não nos faz muito mais felizes ou satisfeitos. É fácil observar quantas pessoas ricas, famosas ou intelectualmente dotadas, como os grandes cientistas e escritores, se sentem frustradas, infelizes, deprimidas, inseguras. Então, é necessário usar nossa inteligência humana para perguntar a verdadeira questão: qual é a real causa da felicidade? O que realmente pode nos fazer felizes?

Qual seria a resposta?
Ir em direção aos níveis internos de consciência.

Nenhum comentário: